A chegada de Telê faz 25 anos

Alexandre Giesbrecht
Jogos do São Paulo
4 min readOct 11, 2015

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Por Alexandre Giesbrecht | Twitter | 11 de outubro de 2015

Telê Santana e Moraci Sant’Anna, durante a primeira partida da final do Brasileiro de 1991. Foto: Gazeta Press

“Vim para ajudar e sinto que estou atrapalhando.” Foi assim que Pablo Forlán explicou seu pedido de demissão da direção técnica do São Paulo, em 11 de outubro de 1990 (exatos 25 anos atrás). O São Paulo havia começado de maneira bem irregular o Campeonato Brasileiro e, até a vitória pelo placar mínimo sobre a Internacional de Limeira, no dia anterior, tinha ganho apenas um jogo dos seis anteriores. Apesar disso, o Tricolor ocupava as primeiras posições do Grupo B no recém-iniciado segundo turno, embora estivesse no meio da tabela na classificação geral.

O técnico deu um depoimento ao jornal A Gazeta Esportiva, em que demonstrou indignação com o comportamento de alguns torcedores: “Já era o momento de sair. Há uns seiscentos ou setecentos torcedores que não gostam de mim. Ficavam torcendo contra, e era um peso muito grande. Não para mim, mas para o time, que se via obrigado a ganhar na marra. Esses torcedores não gostam do São Paulo. Estou saindo em respeito à diretoria, ao elenco e aos verdadeiros torcedores são-paulinos.”

Para o lugar de Forlán, no mesmo dia a diretoria chamou Telê Santana, que tinha sido demitido do Palmeiras havia pouco menos de um mês — segundo a Folha de S. Paulo, por “mau relacionamento com jogadores”: “A manutenção do esquema [desgastou-o] junto ao time, que não acreditava na tática ofensiva do técnico. […] A maneira seca de ser e o rosto fechado afastavam os jogadores mais novos.” A demissão veio após derrota para o Bahia, a primeira no Parque Antarctica em 68 jogos.

Em entrevista à Gazeta Esportiva, Telê explicaria sua saída do rival: “Há momentos na vida de um técnico em que as coisas não dão certo. Nesse caso, uma mudança faz com que o time melhore, e foi o que tentei fazer. No instante em que senti que havia uma dificuldade para superar a fase, julguei melhor sair. Saí para facilitar e dar a oportunidade para que outro tentasse mudar o quadro.” Mesmo com a mudança (o ex-volante Dudu assumiu o comando), o Palmeiras terminaria o primeiro turno em último lugar em seu grupo e na vice-lanterna geral, mas acabaria se recuperando no segundo turno e alcançaria as quartas de final, onde seria eliminado pelo Grêmio.

“Sei que o Telê está chegando”, disse Forlán, na mesma entrevista à Gazeta. “Peço aos torcedores que deixem ele trabalhar e incentivem os jogadores, pois só assim haverá progressos.” Telê disse ter recebido várias propostas para treinar outros clubes após deixar o Palmeiras, porém recusou-as, pois planejava encerrar a carreira, algo que já tinha tentado fazer antes. Acabou aceitando o convite do amigo Carlos Caboclo, diretor do São Paulo, e chegou, no dia 12, pedindo tranquilidade, disciplina e um futebol ofensivo: “Futebol é mais do que marcar o adversário e fazer gols. Futebol é arte.” Ele indicou ao diretor de Futebol, Fernando Casal de Rey, a contratação do preparador físico Moracy Sant’Anna.

A contratação de Telê foi recebida com reservas por parte da diretoria, que não gostava de seu método de trabalho. Possivelmente também pesava nessa avaliação a primeira passagem do técnico pelo Morumbi, em 1973, embora o técnico tenha sido fortemente cogitado pela diretoria para assumir o comando do clube em 1984 — quando os dirigentes do Al-Ahli não o liberaram de seu contrato na Arábia Saudita, fazendo o Tricolor optar por Cilinho — e em 1989 — quando também não conseguira se livrar do acordo verbal que tinha com o Flamengo e não pôde substituir o mesmo Cilinho, tarefa que caberia a Carlos Alberto Silva.

Naquela semana, ele também tinha sido criticado na imprensa quando seu nome foi um dos apontados para prestar consultoria a Paulo Roberto Falcão, treinador da seleção brasileira. “Se [conhecessem] a resposta que Falcão procura, os quatro técnicos de passado glorioso não estariam amargando presente tão inglório”, escreveu Roberto Benevides, d’O Estado de S. Paulo. “O Vasco de Zagalo, o Palmeiras deixado por Telê, o Paraná de Minelli e o Internacional de Ênio [Andrade] não recomendam o ilustre quarteto como guia.”

Na mesma entrevista à Gazeta em que falou de sua saída do Palmeiras, Telê também expôs o que esperava de sua nova fase no Morumbi. Evitou falar em reforços — “Todo bom jogador já atuou no Campeonato Brasileiro” — e elogiou o elenco: “Considero o grupo muito bom. Peço que [a torcida] nos dê tempo, que tenha um pouco mais de paciência. Os jogadores são bons, interessados em fazer uma boa campanha. Se não fizerem mais, é porque será impossível. No grupo, há jogadores de Seleção, outros que já estiveram lá. Paciência é o que peço.”

O novo técnico já comandou o time naquele domingo, dois dias após ser apresentado, contra o São José, em São José dos Campos, e levou a campo Zetti; Zé Teodoro, Antônio Carlos, Ricardo Rocha e Leonardo; Bernardo, Cafu e Raí; Alcindo, Gilmar Popoca e Paulo César. Era um time parecido com o de Forlán, e o resultado também foi parecido: empate sem gols. Mas, depois de uma derrota para o Palmeiras na rodada seguinte, o time embalou e conseguiu chegar à final do Campeonato Brasileiro.

E o que ocorreu ao longo dos anos seguinte entrou para a história, em grande parte graças àquela contratação de exatos 25 anos atrás.

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Autor de três livros sobre a história do São Paulo. Pai, filho, neto e bisneto de são-paulinos.